segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Coragem, Ousadia, Fé e Liberdade!


É assim que eu vejo a atitude de Bento XVI. Todos os motivos ditos explícitos ou entendidos perdem força diante de sua postura e lucidez quando se expôs ao consistório e do mundo e assumiu todas as consequências da sua renúncia, algo inaudível nos últimos oito séculos. Nos últimos tempos, mesmo que muitos não entendam ou não queiram ver, a Igreja se mostra aquilo que é: instituição sim, mas também carismática e acima de tudo Mãe. Talvez, por mais que cogitemos, não descobriremos os verdadeiros motivos de Josef Ratzinger ao dizer “não posso mais continuar como papa”, mas fica-nos a certeza, estamos diante de uma pessoa e como tal, não tem a obrigação de carregar às costas fardos que suas forças ou sua consciência não lhes permitem de continuar portando.
Digam o que quiserem, julguem como se sentirem, mas a meu ver, este homem de 86 anos, que de uma forma egoísta podemos dizer “que não tem mais nada a perder” é um homem de coragem. Acima de sua imagem, do poder que tem e quem sabe dos poucos anos de vida, que lhe restam diz ao mundo: “cheguei ao meu limite. Caminhei até aqui e não me envergonho de dizer que não me sinto mais”. São João Calábria certa vez usou uma frase que me impressiona: “quem está na parte mais alta da montanha, tem uma visão melhor”, isto é, quem está no vértice consegue ver o todo. Bento XVI por conhecer os meandros políticos, administrativos, mas acima de tudo, como grande teólogo, deve estar vendo coisas que nós não vemos e que ele sabe que precisam ser revistas, retomadas, purificadas, ele sabe também, porque é inteligente, que sua eleição se caracterizou como “transição” e em sete anos o que tinha que fazer foi feito, e que agora é hora de outro, envergar as sandálias do Pescador Palestino  para efetivar o que precisa ainda ser feito.
Outro elemento que me faz admirar a atitude de Bento XVI é a sua ousadia. Espero que não entendam o que vou dizer como julgamento, mas como constatação, a gente está vendo quase como rotina, pessoas consagradas que se arrastam no sim que deram por não terem ousadia de dizerem: “não dá mais”. Vemos luta principalmente nas instituições religiosas para a manutenção do “status quo”, preservar a fachada de uma aparência debilitada e descaracterizada e de repente somos surpreendidos por um “velhinho” de 86 anos, talvez a pessoa mais poderosa do mundo, que diante de microfones e câmeras ousa dizer “basta! Fim de linha”. A ousadia pode até parecer imprudência, mas é coragem de provocar novidades. O que vai ser? Ninguém sabe, ele mesmo não sabe. Mas seja o que for, “sou consciente das consequências” disse e o “velhinho" ousado, Bento XVI.
Já ouvi comentários: “nossa no Ano da Fé o Papa faz uma coisa dessas!” Prova inconteste de que ele é um homem de fé. A igreja não é só sua e não é ele. Ela já estava aqui há dois mil e cinco anos antes dele, e perdurará quem sabe quantos outros milhares de anos após ele. Isso é ter fé. Declarou o Ano da Fé porque precisa se pensar nisto, mas que não tem nenhuma obrigação assumir como seu, é a Igreja que proclama e será a igreja, que há de viver isso”. Já imaginaram onde estaríamos se João XXIII ficasse pensando que sua saúde era débil para realizar um concílio? O Papa não é a Igreja! Ele é um membro da Igreja, um filho da Igreja que foi chamado a esta missão.
Não quero que essa reflexão apareça como uma advocacia da atitude do Papa. Isso realmente não o é, porque ele demonstrou hoje ser uma pessoa livre, mas que seja apenas o reconhecimento a um homem, que apesar de tudo o que se possa dizer, deixa a nítida impressão de que é alguém que ama a Igreja. Sua renúncia, mais que uma tragédia é uma chamada para refletirmos para onde queremos ir como Igreja. E o que estamos fazendo como Igreja. Por que o mundo consegue impor seus demônios e nós não estamos conseguindo emplacarmos o nosso Jesus Cristo e o seu Reino?
Em tudo isso, minha gratidão a este “velhinho” corajoso, ousado e crente, chamado Bento XVI.

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