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Digam o que quiserem, julguem como
se sentirem, mas a meu ver, este homem de 86 anos, que de uma forma egoísta
podemos dizer “que não tem mais nada a perder” é um homem de coragem. Acima de
sua imagem, do poder que tem e quem sabe dos poucos anos de vida, que lhe
restam diz ao mundo: “cheguei ao meu limite. Caminhei até aqui e não me
envergonho de dizer que não me sinto mais”. São João Calábria certa vez usou
uma frase que me impressiona: “quem está
na parte mais alta da montanha, tem uma visão melhor”, isto é, quem está no
vértice consegue ver o todo. Bento XVI por conhecer os meandros políticos,
administrativos, mas acima de tudo, como grande teólogo, deve estar vendo
coisas que nós não vemos e que ele sabe que precisam ser revistas, retomadas,
purificadas, ele sabe também, porque é inteligente, que sua eleição se
caracterizou como “transição” e em sete
anos o que tinha que fazer foi feito, e que agora é hora de outro, envergar as
sandálias do Pescador Palestino para
efetivar o que precisa ainda ser feito.
Outro elemento que me faz admirar
a atitude de Bento XVI é a sua ousadia. Espero que não entendam
o que vou dizer como julgamento, mas como constatação, a gente está vendo quase
como rotina, pessoas consagradas que se arrastam no sim que deram por não terem
ousadia de dizerem: “não dá mais”. Vemos luta principalmente nas instituições religiosas
para a manutenção do “status quo”, preservar a fachada de uma aparência debilitada
e descaracterizada e de repente somos surpreendidos por um “velhinho” de 86
anos, talvez a pessoa mais poderosa do mundo, que diante de microfones e câmeras
ousa dizer “basta! Fim de linha”. A ousadia pode até parecer imprudência, mas é
coragem de provocar novidades. O que vai ser? Ninguém sabe, ele mesmo não sabe.
Mas seja o que for, “sou consciente das consequências” disse e o “velhinho"
ousado, Bento XVI.
Já ouvi comentários: “nossa no
Ano da Fé o Papa faz uma coisa dessas!” Prova inconteste de que ele é um homem
de fé. A igreja não é só sua e não é ele. Ela já estava aqui há dois mil e
cinco anos antes dele, e perdurará quem sabe quantos outros milhares de anos após
ele. Isso é ter fé. Declarou o Ano da Fé porque precisa se pensar nisto, mas
que não tem nenhuma obrigação assumir como seu, é a Igreja que proclama e será
a igreja, que há de viver isso”. Já imaginaram onde estaríamos se João XXIII
ficasse pensando que sua saúde era débil para realizar um concílio? O Papa não
é a Igreja! Ele é um membro da Igreja, um filho da Igreja que foi chamado a
esta missão.
Não quero que essa reflexão
apareça como uma advocacia da atitude do Papa. Isso realmente não o é, porque
ele demonstrou hoje ser uma pessoa livre, mas que seja apenas o reconhecimento
a um homem, que apesar de tudo o que se possa dizer, deixa a nítida impressão
de que é alguém que ama a Igreja. Sua renúncia, mais que uma tragédia é uma
chamada para refletirmos para onde queremos ir como Igreja. E o que estamos
fazendo como Igreja. Por que o mundo consegue impor seus demônios e nós não estamos
conseguindo emplacarmos o nosso Jesus Cristo e o seu Reino?
Em tudo isso, minha gratidão a
este “velhinho” corajoso, ousado e crente, chamado Bento XVI.
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