O universo sempre foi um grande conspirador de sonhos e
esperanças e por isso tantas vezes é acusado
injustamente de insensível, frio e sem coração. Não sei se é bom ou ruim, mas quem pensa assim tem razão. Conspiração exige razoes e loucuras. Os corações indomáveis em todos de tempo foram considerados irracionais e insanos. Os corações indomáveis não reconhecem limites quando se trata de sonhos e de ternura. A partir de hoje, publicaremos as dês-razões de alguns corações que se poderia classifica-los de indomáveis. Começaremos com um coração que ainda há muito por descobrir: São João Calábria, que como a todos os corações indomáveis, se procura dar um rótulo, estabelecer parâmetros, criar limites de alcance para apoderar-se cada um a seu modo e segundo seus interesses pessoais.

Os corações indomáveis
são místicos. Não se surpreendem com a crueldade dos homens e ao mesmo tempo se
enternecem com a pequenez e simplicidade das coisas, como criança, se extasiam
com lucidez de iluminados diante das grandes interrogações da vida e as enfrentam
como gigantes.
Muita gente se
põe a pergunta Dom Calábria era um santo, um místico ou simplesmente um ser
humano? Entendendo-o como um Coração Indomável, sempre respondi assim: Não sei
definir direito qual destes perfis corresponde ao de Dom Calábria. Aqueles, que
já se consideram santos aqui, o vêm como tal. Para os que mergulham num poço de
incertezas, e até muitas vezes no medo de enfrentar a vida, o consideram
místico, na tentativa de fugir da realidade. Não sou melhor que ninguém, ao
contrário, se opto pela terceira afirmação é porque estou bastante longe das
duas outras dimensões, e pelo menos no que diz respeito à estrutura humana, me
sinto mais semelhante ao Calábria, fui claro, na estrutura humana. Existem
certas coisas que transferimos ou projetamos nas pessoas por excesso ou por
carência. Gostaria de refletir aqui um aspecto que revela a verdadeira
humanidade de uma pessoa: a capacidade de se relacionar respeitando o outro.
Creio eu, por aquilo que já li e ouvi de pessoas que conheceram Dom Calábria,
este era o seu tom característico. Muitos o chamavam de tímido, porque segundo
escrevia em algumas de suas exortações: “eu procuro dizer as coisas como as
vejo, como as percebo, segundo me inspira o Senhor, mas quando alguns dos
irmãos não as veem assim, retiro-me no meu silêncio”. Vendo assim, se percebe
uma profunda dor no homem Calábria, não obstante tudo isso, revela um profundo
respeito. E “respeito significa, cuidado, atenção, preocupação, olhar de novo.”
Lendo isso dá a impressão que quando Franco Imoda intuiu esses significados, o
fizera observando por uma fresta, as atitudes do Ser Humano Calábria. Para quem
está familiarizado com o mundo da Psique, não poderia imaginar uma pessoa assim.
A história pregressa do Calábria dá um perfil de no mínimo um desequilibrado e paranoico,
ou quem sabe um elemento agressivo, com um grande potencial para a
delinquência, no entanto o vemos construindo fraternidade, juntando irmãos das
mais variadas castas sociais, aconselhando santos e pecadores.
Num mundo que
busca ter, poder e o prazer, uma pessoa como Calábria, desafina as cordas dos
instrumentos da realidade. O jeito de ser humano o transforma em santo e
místico. Na relação concreta com o mundo, com as pessoas e com as coisas
estabelecia a justa medida dos valores. Não pesava nada além daquilo que fosse
justo. O mundo como lugar de passagem para a espécie humana, não poderia jamais
ter mais valor que o ser humano. E as coisas por sua vez não tinham outra
finalidade, a não ser aquela de ajudar ao homem ser e viver melhor o seu
retorno às suas origens, a volta ao Pai. Por isso duas coisas segundo ele lhe
causavam pavor: a infidelidade ao programa, isto é, a não correspondência ao
projeto de Deus que se manifesta por meio da Obra e o pecado, afastamento
deliberado da via do Senhor, Único sentido da existência humana. Não se pode
dizer que uma pessoa fosse somente santa como dissemos antes e que parece ser a
ideia de alguns, mas não se pode negar que alguém assim não é místico.
Interessante notar que Dom Calábria nunca fez grandes estrondos na sua vida.
Manteve relação com pessoas dos mais altos escalões da Hierarquia Eclesiástica,
entabulou diálogo com as mais variadas personalidades da sociedade civil,
apareceu em jornais (e na maioria das vezes sendo criticado pela sua ousadia),
mas sempre de um modo Calabriano de ser, segundo ele mesmo, “toquinha e
covinha”, no escondimento, buscando sempre viver aquela experiência do
evangelho, “não saiba a tua mão esquerda o que fez a direita”.
O ser humano
Calábria, assumiu a sua condição, a sua história pessoal. Jamais se colocou
pelos cantos a choramingar as incompreensões, ou a projetar-se, se lamentando que
se não ia adiante era por culpa do outros. Sempre assumiu em primeira pessoa a
sua condição de pecador e a luta pela sua santificação: “hoje começo de novo”,
“ou santo ou morto”, era seu propósito após cada confissão, quase sempre
semanal. Quanto mais próximo de si mais o ser humano descobre Deus e a sua
ternura. Quanto mais descobre Deus e a sua ternura, mais intensifica o desejo
de estar sempre com Ele. Esse desejo de estar Nele confrontado com a realidade
humana, medida segundo os paradigmas do mundo, provoca uma tensão que se revela
numa espécie de angústia, ou seja, o desejo de já estar lá, mas ao mesmo tempo
a sensação de que ainda não é puro o bastante para tal.
E aqui eu
entendo perfeitamente a santidade de Calábria. Um humano no verdadeiro sentido
da palavra, que busca lá no mais profundo de si, dar um verdadeiro significado
à sua existência. Isso necessariamente o faz descobrir que não há nada mais
largo e nem profundo que a contemplação do Ser Criador, que ele, como Jesus,
chamava com um grande amor filial de Pai. O mesmo Pai a quem ele sempre
recorria quando as coisas não andavam bem, mas também quando tudo corria às mil
maravilhas. Na sua atitude de humano, santo e místico, quando não

Esse é o
sofrimento de todo ser humano que se aproxima de Deus. Soren Kierkegaard dizia,
“ninguém pode contemplar o rosto de Deus e permanecer vivo”. Moisés, quando recebeu
as tábuas da lei, escondeu o rosto para não morrer e mesmo assim saiu
chamuscado pela grandeza da presença de Deus. Ao descer do Sinai, causou
espanto aos seus concidadãos, estava com um rosto iluminado. Só se entende a
santidade de Dom Calábria, pelo prisma da sua humanidade. O seu jeito místico
de viver essa relação com Deus, assustava os incrédulos e deleitava os que
verdadeiramente acreditavam em Deus, e por isso, ambos o procuravam: os
primeiros para apaziguarem interiormente o seu desejo infinito de Deus, e os
segundos, para sentirem-se ainda mais seguros. A mesma experiência feita por
Nicodemos e Marta.
O coração indomável no atrai as pessoas a si,
mas a um projeto, que muito maior e que leva a horizontes largos e opções
infinitas. O indomável não se deixa tomar pelos interesses pessoais nem de
terceiros, sobrepujam a mesquinhez da ganância e da prepotência. Sofre pela
incapacidade de compreender dos ignorantes, mas não titubeia e é irascível com
mordaz inocência dos hipócritas.
Dom Calábria,
140 ANOS de um Coração Indomável! Obrigado por me ajudar a abrir esta secção.
Parabéns pela sua existência! Auguri por não se ter deixado engaiolar pelos
pensamentos mesquinhos e não se aprisionar nas mãos das almas pequenas.