domingo, 7 de abril de 2013

NÃO HÁ MISTÉRIO!

            Essa expressão aparentemente inocente carrega em si uma verdade desconcertante para a humanidade do Século XXI! No passado a vida parecia mais tranquila e mais calma porque trazia em si um quê de mistério e segredos, que faziam dos humanos, seres dependentes, que gozavam de um ar de inocência, uma crença ingênua. Os mitos e a fantasia comandavam suas ações, onde os sonhos não se desfaziam por qualquer motivo.
A evolução do pensamento provocada pela tecno-ciência elevou a reflexão, alargou a consciência de uma maneira demasiada desavisada, acabou por encontrar as sociedades ricas em recursos e alienadas na sua forma de ver os horizontes. O mundo que parecia existir nos confins da terra com o infinito chegou para mais perto e a gente ficou sem saber o que fazer, porque até então talvez fosse para ali que mandaríamos aqueles que eram maus e que insistiam em nos fazerem sofrer, e no espaço etéreo que está acima das nossas cabeças e dos arranha-céus quase que babélicos, seria o lugar daqueles que durante a vida nos teriam amado e feito as coisas mais interessantes: atos de “caridade”, como compaixão dos incautos e miseráveis desafortunados pobres e débeis, que por perversão de um gen do mal nasceram diferentes dos bons.
Com o fim do mistério, o amor que dilacerava corações apaixonados tornou-se explicável e alquímico. Não há paixão, há química, pele e quem sabe uma molécula a mais de serotonina. A dor não tem mais espaço. Sofrimento é coisa de masoquistas. Para  quê sofrer se no fim não há recompensas?
A ingenuidade de Dom Quixote, que imaginava um amor possível e real, era a ingenuidade de todos, que ainda choravam quando olhavam as estrelas e mesmo sem saber por que sentiam saudades do um infinito, que consolava suas almas sensíveis.
A perda do mistério levou consigo também a virgindade das mentes castas, que contavam com olhos úmidos de emoção e de um místico de lascívia, como era doce viver na brancura da pureza e preservado do escarlate do pecado e do contato com os pecadores. O mistério que não existe mais também fez desaparecer o Deus bom com os bons e castigador dos maus. O mistério pelo menos mantinha princípios e finais, hoje, não há mais limites, não se sabe mais onde as coisas começam e aonde e como vão terminar. A vida que valia tanto porque era um dom, hoje pode ser criada em laboratórios.
O mistério matou a cegonha e com ela muitos bebês, que inesperadamente apareciam nas famílias. O fim do mistério abriu de par em par as portas para a morte, que já não é assim tão terrível, já que o tempo de existência da matéria tem validade, inclusive se pode decidir até quando se quer viver.
O sumiço do mistério poupou Deus de tantos incômodos, principalmente daquele da vigilância cerrada contra o demônio para que não possuísse   o  espírito  dos imaculados, concebidos no pecado original, mas que com um toque de sorte, adquiriram um selo PO(Puros por Origem), porque suas famílias eram formadas por pessoas de uma fé sólida numa religião.
O fim do mistério trouxe o desespero para aqueles que sempre se utilizaram deste expediente para controlarem quem podia ou não se salvar. O que fazer agora com os escrúpulos, as penitências, as confissões, o inferno e o paraíso? Sem mistério esta instâncias também se foram. Sem mistério não há tabus, sem tabus não há medos, sem medos não há punição, portanto sem mistério existe liberdade, consciência, presença e sentido.
Sem mistério Deus deixa de ser de Adão e se torna de Jesus Cristo. O fim do mistério transformou o ensanguentado e assustador Jesus de Judas no Apaixonado Nazareno de Maria Madalena. Sem o mistério, Jesus que era apenas de Nazaré, ganhou as periferias do mundo, atravessou a rua e foi alojar-se no coração e no corpo glorioso do povo, que se ilumina no sorriso de um Pobre Francisco.
A morte do mistério levou consigo os cargos vitalícios, derrubou a mesa que acomodava jogos de cartas marcadas, arrebentou a pseudo democracia das instituições e revitalizou os verdadeiros carismas, que mesmo às vezes manietados por ávidas ambições pessoais, vão abrindo brechas entre a incompetência e o orgulho prepotente de castas e quadrilhas, que se comunam para manterem a preço de sangue e desonras, o pútrido poder conquistado em troca de favores escusos. As sete chaves que protegiam o mistério perderam sua função e por estupidez ou por fragilidade também chegaram ao fim.
Daqui para frente, quem alimentou gaiolas e consciências com o mistério do eu nasci antes, conheci a origem, falo porque eu sei e já vivi bastante, talvez não saberá mais o que fazer, pois sua arma, o mistério já não existe.
 Me sinto muito feliz em dar esta notícia: NÃO HÁ MAIS MISTÉRIO!

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