segunda-feira, 30 de abril de 2012

QUEM AMA ENXERGA COM O CORAÇÃO


Em apenas quatro dias tivemos a grande ventura de nos encontrarmos novamente com Educadoras e Educadores de Marituba, Jacundá e Belem, no Estado do Pará. Com certeza esses encontros foram momentos de muita graça de Deus, porque refletimos sobre o nosso fazer pedagógico. Voltamos o nosso olhar para o mais interior de nós mesmo para nos redescobrirmos na essência daquilo que acreditamos: Educadoras e Educadores Calabrianos que fazem a diferença.
Fazer diferença não é ser melhor, mas é olhar diferente para os diferentes. Deus não ama no plural, não massifica sua paixão pelo ser humano. Ele ama de maneira singular e altera, de modo que cada um quando tocado pelo seu amor, sente do seu jeito. Assim deve ser a atitude das educadoras e educadores que colaboram com a Obra. Uma educadora, um educador que enxerga com o coração. E por isso é diferente e faz a diferença, porque a cada dia vai se tornando uma pessoa de significatividade, enquanto se torna eternamente responsável por aqueles e aquelas que vai cativando. Quem  ama enxerga com o coração, pois quem ama só vê o essencial. E ver com o coração faz da educadora e do educador mestres.
“Mestre é aquele que de repente aprende!” Todo/a educador/a ainda que inconsciente já ouviu e refletiu sobre esta frase de Guimaraes Rosa, muito utilizada pelo Grande Mestre Paulo Freire.
Existem muitas concepções de mestre, e algumas inclusive, muito distantes daquilo, que verdadeiramente é o seu sentido. O mestre de verdade não se intitula como tal e muito menos faz questão de sê-lo. A sua presença e o seu modo de olhar as coisas e o mundo denotam a sua maestria. O mestre não é um artífice barato de coisas ou situações que lhe dão visibilidade e exposição. O mestre é um sábio. E o sábio diz muito também quando cala. Quando alguém deseja mesmo ser vitrine perde o brilho da simplicidade e o rigor da candura, transformando a realidade num “ego” e banalidades.
Quando alguém é reconhecido/a como mestre/a, significa que a sua vida e as suas escolhas não são comuns. São diferenciadas. Os/as mestres/as não perambulam pelos caminhos dos deuses, pelo contrário, caminham pelas estradas dos homens e das mulheres do seu tempo. Vislumbram horizontes velados por circunstâncias não óbvias, mas prováveis.
Para o/a mestre/a não existe o nunca quando existe uma probabilidade. Existem sim paciência, tempo de espera e perscrutação. O/a mestre/a de verdade não desiste só porque há perigos ou ameaças. Diante das adversidades à verdade, agiganta-se e se insurge contra tudo aquilo que insiste em lhe dizer que não.
O/a mestre/a não é um/a androide ou quem sabe um/a mutante. É uma pessoa, com todas as prerrogativas que tem um ser humano. Sente. Apaixona-se. Adoece. Ama. Odeia. Morre. Tudo isso acontece na vida de um/a mestre/a da mesma maneira como acontece na vida de qualquer mortal. Mas o seu jeito de olhar, tocar e viver isso tudo, é que faz dele/a, alguém para além do comum. A sensibilidade e perspicácia de um/a mestre/a torna-o/a uma pessoa que faz a diferença.
O/a mestre/a além de tudo, desenvolve como próprias a espiritualidade e a mística. Não se suporta apenas com o conhecimento das letras. Seu alicerce vai para além das escritas ou de outros elementos sensíveis aos olhos e ao tato. O/a mestre/a de verdade, sente e enxerga com o coração. Lá onde os pés não podem chegar e a mãos não alcançam tocar, ele toca com a sensibilidade de um coração, algumas vezes, marcado pela dor e pelo sofrimento, mas recheado de sentido e de compaixão.
Mestre/a e educador/a se confundem. Porque quando verdadeiros/as eles/as são a mesma pessoa. Não há como separar um/a do/a outro/a. Todo/a mestre/a é ao mesmo tempo um/a educador/a. Educador/a gerado/a nas entranhas do “educere” trazido/a luz pelas mãos do cuidado, amparado pela atenção do saber amar.
O/a educador/a não se submete à mesquinhez do regrado, da proforma ou da remuneração. Mesmo reconhecendo nestes aspectos, elementos fundamentais para sua vida, não os transforma em vitais e sabe muito bem que a sua pessoa, o seu ser estão acima de tudo aquilo que se possa ser reconhecido por um humano mortal, que não é capaz de perceber na vida a imortalidade da existência.
Muitas vezes quando professores/as se reúnem sempre correm atrás de fórmulas mágicas que resolvam suas angústias com um toque de magia. Esquecem-se que o encanto está exatamente na busca de resposta dentro de si e do outro. Quando estes/as professores/as se tornam educadores/as e descobrem isso, suas vidas se tornam significativas de tal modo que não se possuem mais. Tudo o que fazem e pensam, direcionam ao bem do/a outro/a na certeza de que tudo que vai retorna.
O/a educador/a que também é mestre/a desenvolve em si o que a vida tem de mais sagrado, a capacidade interna de evoluir. Evoluir é ir além do mundo que está a nossa volta. É avançar para patamares jamais antes alcançados.
São João Calábria, quando questionado sobre o seu jeito de antever realidades e situações aparentemente impossíveis, mas que afirmava serem possíveis e reais, respondia: “quem está no topo da montanha, tem a vantagem de ver o todo ao seu redor”. O/a educador/a mestre/a é uma pessoa em construção, porque não se contenta com a altura que atingiu, não por ambição, mas por saber-se capaz de ir mais além e por isso está sempre um passo à frente dos demais. O que há de mais bonito nisto é que o/a educador/a mestre não se vangloria não se incha de orgulho, é paciente, prestativo (1Cor 13, 4). Todavia para se chegar a isso, não basta que tenha conhecimento do que lhe é externo, necessita fazer uma incursão consciente no âmago do seu ser. Há que curtir a sua essência.
A afirmação Sou educador/a calabriano/a, posso fazer a diferença, pode soar num primeiro momento como um quê de arrogância, porém quem realmente tem em si a consciência do que é ser educador/a calabriano/a não se sente assim, pois se visualiza a partir desta realidade de diferente não porque é melhor que os outros, mas porque acredita no milagre da transformação, o que lhe dá a convicção de jamais desistir de alguém só porque tem uma história difícil ou um gênio mais assertivo

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