terça-feira, 2 de novembro de 2010

BRASIL, O GIGANTE DE ROSTO E ALMA FEMENINOS


Cidadania! Democracia! Maturidade política! Chamemos do quiser. O Brasil que acordou hoje de Rosto e Alma femininos é tudo isso e um pouco mais. Um povo cidadão não se deixa dirigir por preconceitos. um povo que tem poder nÃo se intimida com as ameaças dos cabrestoS. Um povo maduro mostra nas urnas a conSciência que tem.


Elegendo Dilma Roussef como a primeira mulher a governar esta nação, esse povo mostra que não se passa em brancas nuvens nem o mal e muito menos o bem que lhe é feito. Foi uma campanha política indigna da nação? Ah! isso não se pode negar; O povo rejeitou o nível baixíssimo dos conteúdos dos debates e das propagandas políticas? Com certeza. Mas prevaleceu o olhar clínico da população.


O Brasil inteiro votou. Cada voto sempre teve mesmo peso e mesmo valor. Só que desta vez o voto do pobre, do esquecido durante os quatrro anos após a eleição fez a diferença. O povo do Nordeste, tantas vezes esmagado pelos descasos de governantes, o voto do trabalhador expulso de suas terras por força da miséria foi decisivo na eleição de alguém que representa muito mais hoje as suas realidades. Dilma Roussef, não será mais de nenhum partido ou bandeira, durante os próximos anos, será de todos os brasileiros.


E que fique bem claro, que o povo não está afim de quem ama "clamour" ou veste rosa-barbie e sapatos de lacinhos. Por isso escolheu Dilma ,uma guerreira, entendida, corajosa, construtora de uma "revolução" que mudou os rumos do país. Engraçado, Dilma não assusta criancinhas. Por que será que muitos barbados temiam tanto em te-la como presidente? Sua história? E que história! Construída na luta, como a história da maioria das mães brasileira que também não vestem rosa-barbie e muito menos calçam sapatos com lacinhos.


Que este gigante se torne uma verdadeira mãe para este povo que já está cansando de padrasto.


PARABÉNS PRESIDENTE!

sábado, 16 de outubro de 2010

ABORTO e GENOCÍDIO

Hipocrisia pura! Segmentos da sociedade e da Igreja tão preocupados com o "aborto" e hipocritamente tão despreocupados com as centenas de crianças, de jovens, de homens e mulheres que perambulam pelas ruas não só das grandes cidades, mas em todos os aglomerados humanos do Brasil fizeram o maior "auê" nos últimos dias, tão lamuriosos e falsos que muita gente acabou chorando junto com eles.
Normalmente quem aborta são mulheres e homens que não ganham menos que dois ou três salários mínimos, geralmente têm casa própria não financiada e pelo menos um carro na garagem. Mulheres e homens que ganham apenas um ou menos que o mínimo dizem: "onde come um comem dois" e não matam seus filhos no ventre. Ingenuidade a minha, apologia ao empobrecimento? Não! Nenhuma e nem a outra. O que estou expresando é indignação. Porque alguns destes tão "puritanos" e "defensores" da vida, são apologistas da vasectomia, da laqueadura e "otras cositas mas".
Quem defende a vida, defende-a não só durante a sua gestação, mas defende-a em todo o seu percurso. Esses pseudos cristãos da elite que protestam contra o aborto, apoiam aos latifundiários do Mato Grosso do Sul e de outros estados do Brasil, que possuem milhares de hectares de terra cobertos de cana-de-açucar, eucaliptos, soja e milhões de cabeça de gado. Esses "cristãos" preocupados com a "vida intra-uterina", frequentam as mesas fartas daqueles que se servem do trabalho escravagista e infantil para se tornarem cada vez mais ricos e poderosos.
Os mesmos que estão fazendo esta guerra utilizando as expressões impensadas e malditas por este ou aquele candidatos, não são capazes de entrarem na briga contra o índice alarmante de suicídios de Jovens Indígenas nas aldeias e nos acampamentos ao longo das rodovias de todo os estados brasileiros onde se encontram as nações indigenas.
Falar na televisão ou nas rádios baseando-se em falácias é muito fácil e tranquilo. Porque estes mesmos ofendidos não tiveram peito para enfrentarem o Supremo Tribunal quando votava a lei das células troncos de embriões? De duas, uma: ou estes fanfarrões desconhecem a biologia ou são hipócritas que se apoderaram de sentimentos que eles nem sequer sabem o que significam, pois na verdade não os sentem.
O número de abortos que se fazem neste país cristão chamado Brasil é muito menor que o número de jovens que são viciados diariamente em todas as nossas grandes cidades.
Não vi ainda estas vozes se levantarem contra traficantes, contra os desfalcadores da previdência, contra a multidão de idosos que já ultrapassaram o tempo de se aposentarem e até agora não conseguiram. "Raça de víboras!", "sepulcros caiados!" alguém se lembra destas duas expressões? Com certeza aqueles que fomentaram a falácia sobre o aborto na campanha política, são pessoas dadas ao coluio com os "poderosos" e à desfaçatez de se embrulharem na sacralidade para desfrutarem dos benesseres da corrupção.
Não são Leviatãs, porque estes se saciam de sangue de con- sagrados. São vis vampiros, vulgares e indigentes que se contentam com as gotas de sangue sagrado dos empobrecidos que pingam dos dentes amaldiçoados dos seus "protegidos" políticos e financeiros. Indignos do olhar esmorecido de centenas de homens e mulheres brasileiros, Pobres, Negros e Indigenas, que tanto sonham criar seus filhos nascidos com dignidade, mas os vêem morrer pelo descaso abençoado em Celebrações luxuosas dos grandes templos desta Terra de Santa Cruz.
Escolha entre os que acreditam de verdade na vida e aqueles que se utilizam da vida (dos outros) para usufruirem das riquezas dadas para preservar a vida. Você pode escolher entre o antropofagismo e as migalhas da "santidade" vestida de volúpia e ganância. Você tem 16 ou 18 anos? Já pode escolher.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A dor do povo é a nossa dor


A dor do povo é a nossa dor
“Eu vi muito bem a miséria do meu povo indígena Guarani Kaiowa, que está na beira das estradas, debaixo das lonas, acampados, confinados. Ouvi seus clamores contra os opressores, fazendeiros, latifundiários. Conheci seus sofrimentos, angustias e dores”. (cf. EX 3, 7).
“Este clamor dos povos indígenas chegou até nós religiosos e religiosas do Mato Grosso do Sul. Esta opressão contra nossos povos, pela expulsão de suas terras e confinamentos chegaram aos nossos ouvidos, por isso sentimo-nos enviadas, enviados para somar forças junto a todos e todas que estão diretamente envolvidos nesta causa”. (cf. Ex 3, 9)
Como CRB e como Congregação Franciscana de Nossa Senhora Aparecida, estive, nos dias 19 a 22 de setembro de 2010, na região de Dourados Mato Grosso do Sul, junto ao CIMI, numa visita aos acampamentos e aldeias de partes da região de Rio Brilhante, Douradina, Dourados, Coronel Sapucaia e Ponta Porã. Vi de perto o sofrimento, a dor do povo Guarani Kaiowá na luta pela retomada de seus Tekoha (terra sagrada). Vários acampamentos sofrem ameaças e lideres são perseguidos, crianças morrem de desnutrição e falta de atendimento médico e alimentação adequada. Em algumas áreas nunca tiveram a presença da FUNASA, alegando serem áreas de conflito. Outras a alimentação entregue pela FUNAI chegam com atraso. Nestes lugares o CIMI mantém-se presente junto a este povo animando-os em suas lutas, fazendo-se solidários em suas necessidades e fazendo ponte junto aos órgãos responsáveis para que agilizem o processo de demarcação o quanto antes, publicando urgentemente os relatórios de identificação das Terras Guarani Kaiowá. O que falta é a agilidade dos GTs (Grupos de Trabalho).
Vi também os sinais de esperança de um novo céu e uma nova terra. Áreas já retomadas, embora algumas sejam, na verdade, um confinamento. Como é a região de Dourados. Aproximadamente 14 mil indígenas em uma área de aproximadamente 3.600 hectares. É um absurdo! O boi, a soja, a cana valem mais que uma pessoa.
Como CRB Regional, no que tange a questão indígenas assumimos uma prioridade que ai está: 2) Avivar a dimensão profético-missionária da VRC, atuando em rede e parcerias nas novas periferias e fronteiras, intensificando a opção pelos empobrecidos, assentados e indígenas e fortalecendo o compromisso com as causas sociais, econômicas, políticas e ambientais.

Visitamos vários acampamentos e áreas de retomadas. Dia 19 de setembro, na beira da BR 163, acampamento Laranjeira Ñanderu, onde desci do ônibus e fui acolhida por este povo sofrido e alegre. Estava no momento da reza de acolhida. Lá já se encontravam os missionários do CIMI: Egon Heck (MS), Paulo Suess (Nacional) e Geraldo (MS) também o líder indígena Zezinho que partilhava conosco a realidade. Para mim foi um momento único. O sonho de estar junto a este povo se tornava realidade. A emoção misturada com a dor de vê-los neste abandono tomava conta do meu ser. A colocação deles sobre a realidade de riscos que estavam passando na beira da estrada e o desejo de voltar a sua terra corta o coração e por várias vezes me contive as lágrimas. Conduziram-nos para os seus barracos e nos apresentaram as pessoas mais idosas e o sonho de retomar para suas terras.
Seguimos para Dourados onde pude conhecer a casa da equipe CIMI-Dourados.
A tarde fomos ao acampamento Ita’Y Ka`Aguyrusu – Município de Douradina – Lagoa Rica. Nesta região o povo sofre perseguições e ameaças constantes por parte dos produtores rurais. Estão sitiados. Seus barracos foram queimados e os mesmos despejados na beira da estrada. Retomaram novamente e ainda estão sendo perseguidos.

De onde vem à força para este povo vencer? Quais são as armas? Suas armas são os momentos de reza ao Ñanderu. Ao som do Mbaracá vai levando o povo à resistência na luta de volta para seu Tekoha.






O Evangelho vivo de cada dia
Dia 20 de setembro fomos para Passo Piraju – uma terra de retomada. O Evangelho de hoje nos diz que a luz não foi feita para ficar escondida. Esta luz da luta do CIMI não pode ser escondida. Os avanços e lutas incansáveis destes missionários e missionárias, verdadeiros profetas, deve ser publicado nos quatro cantos do mundo. Quanto brilho nos olhos do povo indígena quando recebe a presença do CIMI em seu Tekoha (terra sagrada).
Tivemos o depoimento do senhor Carlito e seu genro Valmir. Estes depoimentos foram depoimentos proféticos da dor do povo Guarani Kaiowá. Quem grita os seus direitos, corre o risco de ser abafado pelo poder, pela polícia repressiva. Assim aconteceu com este povo. Sofreram agressões e estão sendo penalizados por isso. Mas como dizia sr. Carlito: “Deus conhece, Ele sabe... Deus nos deixou este ‘Lençol’(terra). Só que ela está com um novo lençol que não é o dado por Deus”. E afirma sr. Carlito que lutará por retomar o que é seus e para os seus. Por várias vezes se emocionou diante da grande dor que sente frente a tudo o que estão passando. Isto não foi diferente conosco que lá estávamos ouvindo-o. A dor do povo é a nossa dor.
Dizia sr. Carlito: “Chega de sermos esquecido”. “Queremos mostrar para a sociedade branca que temos dignidade, que temos caráter, o que não temos é oportunidade, por não ter o que é nosso...” Este povo está sendo ameaçados pelos policiais que instalaram uma guarita do outro lado do rio Dourados e nos fins de semana ficam atirando e tentando intimidar a população indígena. Impedindo-os de saírem para buscarem o alimento do seu sustento. Visitamos também a esposa do sr. Carlito, dona Plácida, que nos relatou suas dores e sofrimento devido espancamento da polícia ao ser levada presa em um confronto que sofreram com a polícia do qual dois policiais acabaram morrendo. Um pela própria policia, acidentalmente e o outro pelo indígena em sua legítima defesa, pois os policiais chegaram atacando.
Após depoimento indígena, Egon Heck – CIMI, informava a comunidade sobre o andamento dos processos e situações das demais comunidades em luta e retomada. Esta rede e sintonia fortalecem e animam as comunidades.
Paulo Suess anima e dá uma palavra de conforto e esperança a este povo dizendo que a “luta indígena é como o rio, mesmo sendo desviado do seu curso, um dia ele retoma o seu antigo leito normal. E assim está acontecendo com os povos indígenas do Mato Grosso do Sul e tantos outros povos”. Estão retomando ao seu destino de origem. É preciso festejar cada passo dado! Com foguetes! É preciso festejar também a derrota dos poderosos! “Deus derruba dos tronos os poderosos e eleva os humildes”.
A tarde fizemos visita a Comunidade Religiosa das Irmãs da Consolatas. As Irmãs partilharam sobre a realidade de trabalho com as mulheres indígenas: projeto corte costura e acompanhamentos religiosos. Partilharam o grande desafios de grupos religiosos na aldeia que vão matando a expressão própria dos indígenas de manifestarem seu culto, sua reza. Impedindo até mesmo as crianças de brincarem, jogarem bola, etc. dizendo que ‘é coisa do diabo’. É fraco o catolicismo. Há pouca presença ou quase nada da presença da Igreja, exceto as Irmãs e agora chegou Pe. Teodoro, que fala o Guarani e está sendo uma presença animadora ao povo junto com as Irmãs. Há também um grande número de juventude sendo atingidos pela droga, também relatam casos de suicídio. Estes povos estão confinados neste pedaço de terra. Consta a presença de 14.000 índios para uma extensão de 3.600 hectareas de terra, segundo os dados da Funai. Afirmam que na região o preconceito aos indígenas é muito forte.
Dia 21 de setembro de 2010. Dia da árvore! Véspera de primavera! Há sinais de esperança. E como dizia D. Hélder: “onde existe um restinho de esperança é meu dever alimentá-la”.
Vejo que com todas estas lutas, dores e sofrimentos a primavera está se aproximando na vida desta nação tão pisada nestes 500 anos de massacre e resistência.
O Evangelho de hoje fala que depois da morte de João Batista Jesus foi com seus discípulos para um lugar afastado. As multidões vão ao encontro dele. Uma multidão faminta e doente. Jesus as acolhe e fala a elas do Reino, restitui a saúde de todos que precisavam de cura.
Hoje eu vivenciei esta passagem do Evangelho nas pessoas do CIMI em contato com os povos indígenas. Fomos visitar a retomada de Kurusu Ambá – Município de Coronel Sapucaia, fronteira com o Paraguai. Este povo é mais um sinal de resistência, de luta em busca de seu Tekoha. Já é a quarta vez que voltam ao seu território. A FUNAI está fazendo o trabalho de identificação. Chegamos de surpresa, pois é difícil a comunicação. Um lugar retirado como tantos outros... o povo vive no deserto, a terra está deserta, coberta de pasto, aveia... e o povo com fome e sede de justiça, de direito e dignidade.
Logo ao chegarmos à aldeia uma jovem – Berenice – nos falou do caso de uma criança de apenas 03 anos de idade, que se encontrava gravemente enferma. Prontamente a equipe do CIMI foi ao local onde se encontrava a criança e sua mãe e nós a acompanhamos até a Casa do Índio em Amambaí para cuidados médicos.
Enquanto a mãe se preparava fomos conhecendo o espaço e ouvindo as lideranças em seus depoimentos. Fomos fazer uma caminhada na mata, sentir o cheiro do verde esperança de vida em abundância. Até retomei meus tempos de criança e desafiei a passar pela pinguela de um tronco de arvore deitado sobre o pequeno córrego no meio da mata.
Ao chegarmos no local de volta estava o grupo de reza ao som do Mbaraká (instrumento de chocalho usado pelos homens) e Taquara (instrumento usado pelas mulheres) ao redor de uma cruz.
Como em todos os locais por onde passamos, houve um momento de ESCUTA por nossa parte, sobre suas realidades e do nosso lado uma palavra do CIMI.
Senti como no tempo de Jesus. “Daí-lhes, vós mesmos de comer”, assim é o papel do CIMI. Não uma comida que sustenta no momento, mas o alimento que ajuda no protagonismo deste povo. Um alimento que ajuda na reconquista de seus Tekoha, de sua dignidade como pessoa humana. Um alimento que mexe e ativa os órgãos estaduais e federais no seu dever junto a estes povos. Este testemunho do CIMI é uma resposta ao mandato de Jesus acima citado.
Retornamos a Amambaí aproximadamente às 11hs da manhã. Laila com a criança doente nos braços. A mãe da criança ao lado com um outro no colo. Lá fomos. A criança sem forças, desidratada, pedia água. Egon na direção acelera para chegar a tempo de socorrer a criança. A distancia era longa... que dor ao ver esta realidade. Enfim chegamos ao local. Onde entramos juntos na Casa de Saúde Indígena da FUNAI – Amambaí. Na esperança de salvar esta vida. Mas no dia seguinte recebemos a noticia que a mesma veio a óbito às 19 hs. Às 23 hs retornaram com a mesma para a aldeia. Mais uma criança indígena vítima! Não teria acontecido isto se providencias tivessem sido tomadas por parte da FUNASA, que nunca apareceu no local. E por lerdeza da FUNAI em atender a solicitação dos indígenas.
Dirigimos para Ponta Porá onde Egon tinha uma entrevista com a TV Morena sobre o caso do Ypoi. Uma área de retomada onde os povos indígenas se encontram sitiados pelos produtores rurais. Local onde foram assassinado dois indígena: Genivaldo e Rolindo. Genivaldo, o corpo foi encontrado 7 dias depois e Rolindo até hoje não foi encontrado. Nesta área não há permissão nem para sair, nem para entrar. Neste período, conta eles, que uma criança precisou de atendimento médico e teve que ser levada de madrugada, por dentro da mata, a um Posto de Saúde.
Retornando para Dourados, no entardecer, o sol se pondo e o luar surgindo entre a árvore seca à beira da Rodovia 463, chegamos ao barraco de dona Damiana Cavanha – líder indígena do Acampamento Apycaí – Curral de Arame. Ao redor cana de açúcar. Esta retomada já tem dez anos de luta. O CIMI mostrou o filme do dia de confronto onde as casas foram queimadas nesta região e depoimento de Damiana.
Assim passaram estes dias nestas terras indígenas que esperamos, que não demore muito sejam devolvidas ao seus verdadeiros donos. Ficaram em mim a marca, a convicção e o desejo cada vez mais forte de continuar nesta causa e de levar às demais pessoas que ainda desconhecem esta realidade.
“Os discípulos devem estar livres, ter bom senso e estar consciente, de que a missão vai provocar choque com os que não querem transformações”.(rodapé bíblia pastoral – Mc 6,6-13)
Diante do Evangelho de hoje encerro agradecida a Deus, a Congregação, a CRB e em especial ao CIMI, por este espaço e esta oportunidade de vivenciar mais de perto o Evangelho de Jesus Cristo junto aos Povos Indígenas. “Em qualquer casa onde vocês entrarem, fiquem ai, até vocês se retirarem”. Agradecida pela acolhida e mais fortalecida pelo testemunho incansáveis da equipe do CIMI – Campo Grande - MS e Dourados -MS.
Vou, com o coração cheio de inquietação na esperança de retornar com mais força, coragem e vigor.

Ir. Joana Aparecida Ortiz – (CIFA)
Congregação das Irmãs Franciscana de Nossa Senhora Aparecida

ESSENCIAL E ASSESSÓRIO


A vida humana, uma tesouro de Deus, às vezes se torna um festival de desperdícios. As escolhas que se fazem nem sempre condizem com o verdadeiro sentido da existência. As mentes pequenas, invejosas, completamente diferentes daquelas brilhantes fazem de tudo para ofuscar o brilho da genialidade e da inteligência.
O poeta uma vez disse que “gente nasceu para brilhar”. Existem pessoas oprimidas entre os “paredões” de dores e de lutas, mesmo assim brilham e decolam em busca da sua real origem, o infinito. Mas entre elas há também aquelas "preguiçosas” e “fúteis” que se contentam em aparecer não pelo belo, o maravilhoso, o fantástico, mas sim, pelo ridículo, o sem noção. Pessoas que se sentem muito grande e não são, dão muito valor ao assessório, o superficial, fugaz e fútil. As pessoas verdadeiramente grandes não se medem pelo esforço minguado das aparências. Ao contrário, seu senso de medida é aquilo que é essencial. Seus versos não são vazios, vulgares – são poemas de vida, poesias de existência bem resolvida.
A vida, joia de valor inestimável, não pode ser guardada em invólucros banais. Deve ser conservada em vasos finos com a ternura da eternidade e a simplicidade do infinito. Dia 08 de Outubro, como Família Calabriana e como Igreja Católica, celebraremos uma vida vivida na intensidade, Joao Calábria, Homem, Santo, Místico, HUMANO. As mentes brilhantes, não se forjam no jogo do servilismo, mas na experiência da verdade, clara e objetiva. Uma mente brilhante não busca brilhos em situações ou particularidades que a possam projeta-la. Enquanto as mentes infantilizadas e complexadas constroem aparatos assessórios que escondam seus pré-conceitos, seus estigmas mal resolvidos, as mentes brilhantes como a de Joao Calábria, firmes de pés no chão buscam nas nuvens, as pistas e as luzes que precisam para continuarem sendo divisores de águas.
Enquanto as mentes atrofiadas se desesperam em sua finitude, uma mente iluminada descobre que as respostas estão dentro de si mesma e que basta se abrir para o universo e lá se encontrar com Alguém Maior. As mentes de assessórios sentem-se muito felizes e seguras na singularidade e por isso não veem caminhos além dos seus trilhos curtos e sem vida. As mentes que se pautam pela essencialidade, se angustiam na pluralidade dos caminhos. Não dá peso absoluto às coisas, mas vê nas pessoas o caminho certo das possibilidades.
Ser assessório ou essencial tem pouco a ver com academia, literatura, erudito ou clássico. Muita gente taxou João Calábria de “ignorante”, mas ironicamente estas pessoas não foram ou não são capazes de comporem um texto, enquanto o Calábria escreveu livros, artigos, lidos ainda hoje por muitos sábios e doutos e altamente compreensíveis aos pequenos.
O essencial vem e fica. O assessório é fenomenal, vem com prazo de validade. O essencial é como os clássicos musicais se eternizam na humanidade. O assessório é apenas um gênero que passa com tanta rapidez que de uma geração para outra ninguém o reconhece.
Há qualquer coisa de insano nas atitudes das mentes assessórias, inventam gestos, grotescos, sons do “além” e acham que isso é que é “top”. Quando não lhe dão a menor atenção se refugiam no que lhe é próprio, o ódio pelo que é essencial, porque este é versátil, rico e extensivo. Para muita gente (assessórios) Joao Calábria é mais um na história, mas para quem está além das miragens (essencial), esse nome é uma história na vida da humanidade.
Para quem ainda acha que ser assessório é mais vantajoso que essencial, ainda há tempo. Dispa-se dos seus velhos paradigmas carcomidos pela futilidade e pobreza de espirito e se revista do que é essencial, simples, eterno.
Não sabe como fazer? Aprenda com o Essencial Joao Calábria, que não se contentou em beber do poço fundo amargo e triste do assessório e deixou-se mergulhar na essencialidade da Fonte que jorra água viva.

sábado, 1 de maio de 2010

EDUCAÇÃO E DEMOCRACIA

A educação na sua dimensão mais profunda é um divisor de águas para todos os povos e todas as culturas. Uma educação de verdade é de qualidade e traz em seu bojo os princípios fundamentais da democracia. A democracia é o aspecto mais essencial de uma educação que preconiza a autonomia do sujeito.
Como realidade atual, em quase todos os governos, percebemos algumas reticências no tocante a uma gestão que prime por atitudes e gestos democráticos. Na Conferencia Nacional da Educação, realizada em Brasília entre os dias 28 de Março e 1º de Abril, o seu Documento Base, Volume I no seu eixo II, aborda a qualidade da educação e a gestão democrática, desde o art. 58 até ao 111, o tom subiu muito de nível nas discussões, sobre a responsabilidade do estado, na questão das garantias dos direitos aos cidadãos brasileiros de uma educação de qualidade, não só para uma competição de mercado, mas que em primeiro lugar, esteja o que é mais essencial, a ética e a cidadania.
Um dos maiores avanços, está exatamente na Lei de Diretrizes e Base (Lei 9.394/96) que entre outros princípios, reforça a participação dos profissionais da educação, bem como a comunidade escolar e local na elaboração do Plano político pedagógico e conselhos escolares ou equivalentes.
A gestão democrática tem sua fundamentação na constituição de um espaço público de direito, que deve promover condições de igualdade, garantir estrutura material para a oferta de educação de qualidade, contribuir para a superação do sistema educacional seletivo e excludente, e ao mesmo tempo, possibilitar a inter-relação desse sistema com o modo de produção e distribuição das riquezas, com a organização da sociedade, com a organização política, com a definição de papeis do poder público e com as teorias de conhecimento, as ciências, as artes e as culturas (art. 67 do Doc. Base Vol. I CONAE). Este artigo praticamente resume o eixo em pauta.
Isso implica dizer, que há uma necessidade premente de que a educação seja objeto de ampla discussão em todas as instituições, não somente naquelas com vocação específica, mas toda a sociedade. É de fundamental importância, que o poder público seja de que esfera for, adquira a consciência de que a democratização do país e o seu desenvolvimento, passam obrigatoriamente por um amplo debate entre ele próprio e a sociedade civil, sobre que escola queremos e para onde levaremos a sociedade que sonhamos. Daí a cartada, o sistema articulado de educação, que desemboca em algo mais concreto e institucionalizado, supra governo ou tendência política, o Plano Nacional de Educação (PNE). A gestão para ser democrática deve levar em conta todos os segmentos sociais, representados organizados em seus respectivos conselhos, e neste caso os protagonistas são o Conselho Nacional de Educação (CNE), os Conselhos Estaduais de Educação (CEEs) e os Conselhos Municipais de Educação (CMEs). Para isso é urgente que se supere as fragmentações comumente existentes nos órgãos colegiados, articulando suas diferentes funções e correntes em prol de algo muito maior, uma educação de qualidade, geradora de sujeitos, exímios leitores não somente de textos, mas intérpretes do seus respectivos contextos.
A Constituição Brasileira de 1988 é o resultado de um projeto democrático. Temos experiência do que é democracia e a sua implementação deve ser esta busca constante, que se faz para a realização do sonho possível para um Brasil e um mundo possíveis. Os avanços que se tem hoje, inclusive esta CONAE, são resultados palpáveis de conquistas sociais, partindo de lutas, que só se alcançam, quando a sociedade inflamada pelo desejo de se rever nos fatos e nas realidades do dia-a-dia, se institui num grande fórum e de norte a sul, vota o que é prioridade é ético para uma vida com direitos e com qualidade. Isso nos remete a uma crença de que a CONAE não é o ponto de chegada, mas um grande passo, rumo às transformações mais necessárias e urgentes, tão sonhadas pela e para a construção de uma educação verdadeiramente de qualidade.
Daqui, depreende a urgência de um fórum permanente de mobilização nacional pela educação, para a fomentação e garantias de políticas públicas, que garantam a inclusão de toda a comunidade escolar num projeto supra ideológico, onde por meio de planos efetivos e eficientes, se estabeleçam os patamares de alcance e de competência de cada um, na construção de um projeto amplamente democrático, ético, solidário e inclusivo.
Concluindo diríamos que todo este trabalho tão intenso e tão extenso, só terá um alcance objetivo e concreto, se da parte da sociedade organizada, haja não somente uma fiscalização de ações, mas principalmente, se houver a coragem de uma constante revisão e avaliação dos seus próprios atos. Isso impedirá de se cair numa ditadura de excelências, que como qualquer ditadura, destruiria o processo de permanente qualificação e gestão da educação.

Ir. Silvio da Silva

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A MULHER DA BRECHA

Sempre se falou do Homem da Brecha! O triste acontecimento do Haiti revelou que é do Brasil a Mulher da Brecha! Dona Zilda Arns, conhecida mundialmente, mas pouco comentada até hoje dia 14, de repente se torna o foco dos noticiários de todos os canais de comunicação. Há mais de 1200 soldados brasileiros, 11 dos quais morreram na mesma catástrofe, mas a gente sabe muito pouco sobre eles.


O Brasil inteiro desde os barracos mais recônditos da Amazônia aos luxuosos apartamentos das grandes metrópoles conhecem e sabem quem foi Dona Zilda. Ela é a verdadeira brasileira. Onde os poderes constituídos não conseguiram chegar com a sua técnica e burocracia ela chegou com uma pitada de sal e outra de açucar em um litro d'água e salvou milhares de vida. Onde morriam tantas parturientes por falta de conhecimentos e cuidados pré-natais, as voluntárias da Pastoral da Criança, fundada por Dona Zilda chegaram e transformaram a ameaça de morte materna em sorrisos de alegria e acolhida de tantas novas vidas.


Somos um povo pra lá de emotivo e as lágrimas que derramarmos por Dona Zilda, serão um misto de tristeza e orgulho de termos como conterrânea uma mulher que não mediu esforços para fazer acontecer e proteger a vida. Um verdadeiro símbolo da Mulher Brasileira, mãe de cinco filhos, como a multidão de mães brasileiras, não se fechou no seu reduto familiar, mas ampliou sua família estendendo-as aos desvalidos deste Brasil maravilhoso.


Ainda bem que neste país a maioria das pessoas têm um pouco de Dona Zilda. Quando a gente pensa em se envergonhar desta terra de meieros e cuequeiros, imorais, escandalosos e indecentes, percebemos que de um desastre natural tão grande, fora da própria terra, surge uma pessoa que faz de nós um povo guerreiro, teimoso e que não desiste nunca. Dona Zilda morre como sempre procurou viver, entre os mais pobres. Onde havia uma vida a ser cuidada, lá estava ela ou as suas voluntárias. É isso mesmo, este país é de gente grande, honesta, decente, ética.


Dona Zilda, aos seus companheiros de viagem para a casa do Pai eu peço que tenham um eterno descanso, mas a você peço um trabalhinho a mais: lá de perto do Senhor, interceda por nós, povo brasileiro para que não percamos de vista o que você nos ensinou com a sua vida e nos educou com a sua morte.


Os grandes da terra não lhe deram o Prêmio Nobel da Paz, mas os pobres de Javé lhe coroam com um título muito maior: ZILDA ARNS, lhe nomeamos a nossa Mestra e Guru, você é a Brasileira, MULHER DA BRECHA!