segunda-feira, 7 de outubro de 2013

140 ANOS DE UM CORAÇÃO INDOMÁVEL!

           O universo sempre foi um grande conspirador de sonhos e esperanças e por isso tantas vezes é acusado

injustamente de insensível, frio e sem coração. Não sei se é bom ou ruim, mas quem pensa assim tem razão. Conspiração exige razoes e loucuras. Os corações indomáveis em todos de tempo foram considerados irracionais e insanos. Os corações indomáveis não reconhecem limites quando se trata de sonhos e de ternura. A partir de hoje, publicaremos as dês-razões de alguns corações que se poderia classifica-los de indomáveis. Começaremos com um coração que ainda há muito por descobrir: São João Calábria, que como a todos os corações indomáveis, se procura dar um rótulo, estabelecer parâmetros, criar limites de alcance para apoderar-se cada um a seu modo e segundo seus interesses pessoais.
São João Calábria, que de agora em diante o chamaremos simplesmente de Dom Calabria representa a altura o sindicato dos CORAÇÕES INDOMÁVEIS. Não se pode dizer que ele fosse um mito, mas negar a sua existência come fenômeno também é cegueira. E o que é um fenômeno? A distância entre o fenômeno e os outros é quase nada, porém, é inatingível, por isso que os fenômenos humanos quase sempre são tidos como místicos o que não deixa de ser uma verdade.
Os corações indomáveis são místicos. Não se surpreendem com a crueldade dos homens e ao mesmo tempo se enternecem com a pequenez e simplicidade das coisas, como criança, se extasiam com lucidez de iluminados diante das grandes interrogações da vida e as enfrentam como gigantes.
Muita gente se põe a pergunta Dom Calábria era um santo, um místico ou simplesmente um ser humano? Entendendo-o como um Coração Indomável, sempre respondi assim: Não sei definir direito qual destes perfis corresponde ao de Dom Calábria. Aqueles, que já se consideram santos aqui, o vêm como tal. Para os que mergulham num poço de incertezas, e até muitas vezes no medo de enfrentar a vida, o consideram místico, na tentativa de fugir da realidade. Não sou melhor que ninguém, ao contrário, se opto pela terceira afirmação é porque estou bastante longe das duas outras dimensões, e pelo menos no que diz respeito à estrutura humana, me sinto mais semelhante ao Calábria, fui claro, na estrutura humana. Existem certas coisas que transferimos ou projetamos nas pessoas por excesso ou por carência. Gostaria de refletir aqui um aspecto que revela a verdadeira humanidade de uma pessoa: a capacidade de se relacionar respeitando o outro. Creio eu, por aquilo que já li e ouvi de pessoas que conheceram Dom Calábria, este era o seu tom característico. Muitos o chamavam de tímido, porque segundo escrevia em algumas de suas exortações: “eu procuro dizer as coisas como as vejo, como as percebo, segundo me inspira o Senhor, mas quando alguns dos irmãos não as veem assim, retiro-me no meu silêncio”. Vendo assim, se percebe uma profunda dor no homem Calábria, não obstante tudo isso, revela um profundo respeito. E “respeito significa, cuidado, atenção, preocupação, olhar de novo.” Lendo isso dá a impressão que quando Franco Imoda intuiu esses significados, o fizera observando por uma fresta, as atitudes do Ser Humano Calábria. Para quem está familiarizado com o mundo da Psique, não poderia imaginar uma pessoa assim. A história pregressa do Calábria dá um perfil de no mínimo um desequilibrado e paranoico, ou quem sabe um elemento agressivo, com um grande potencial para a delinquência, no entanto o vemos construindo fraternidade, juntando irmãos das mais variadas castas sociais, aconselhando santos e pecadores.
Num mundo que busca ter, poder e o prazer, uma pessoa como Calábria, desafina as cordas dos instrumentos da realidade. O jeito de ser humano o transforma em santo e místico. Na relação concreta com o mundo, com as pessoas e com as coisas estabelecia a justa medida dos valores. Não pesava nada além daquilo que fosse justo. O mundo como lugar de passagem para a espécie humana, não poderia jamais ter mais valor que o ser humano. E as coisas por sua vez não tinham outra finalidade, a não ser aquela de ajudar ao homem ser e viver melhor o seu retorno às suas origens, a volta ao Pai. Por isso duas coisas segundo ele lhe causavam pavor: a infidelidade ao programa, isto é, a não correspondência ao projeto de Deus que se manifesta por meio da Obra e o pecado, afastamento deliberado da via do Senhor, Único sentido da existência humana. Não se pode dizer que uma pessoa fosse somente santa como dissemos antes e que parece ser a ideia de alguns, mas não se pode negar que alguém assim não é místico. Interessante notar que Dom Calábria nunca fez grandes estrondos na sua vida. Manteve relação com pessoas dos mais altos escalões da Hierarquia Eclesiástica, entabulou diálogo com as mais variadas personalidades da sociedade civil, apareceu em jornais (e na maioria das vezes sendo criticado pela sua ousadia), mas sempre de um modo Calabriano de ser, segundo ele mesmo, “toquinha e covinha”, no escondimento, buscando sempre viver aquela experiência do evangelho, “não saiba a tua mão esquerda o que fez a direita”.
O ser humano Calábria, assumiu a sua condição, a sua história pessoal. Jamais se colocou pelos cantos a choramingar as incompreensões, ou a projetar-se, se lamentando que se não ia adiante era por culpa do outros. Sempre assumiu em primeira pessoa a sua condição de pecador e a luta pela sua santificação: “hoje começo de novo”, “ou santo ou morto”, era seu propósito após cada confissão, quase sempre semanal. Quanto mais próximo de si mais o ser humano descobre Deus e a sua ternura. Quanto mais descobre Deus e a sua ternura, mais intensifica o desejo de estar sempre com Ele. Esse desejo de estar Nele confrontado com a realidade humana, medida segundo os paradigmas do mundo, provoca uma tensão que se revela numa espécie de angústia, ou seja, o desejo de já estar lá, mas ao mesmo tempo a sensação de que ainda não é puro o bastante para tal.
E aqui eu entendo perfeitamente a santidade de Calábria. Um humano no verdadeiro sentido da palavra, que busca lá no mais profundo de si, dar um verdadeiro significado à sua existência. Isso necessariamente o faz descobrir que não há nada mais largo e nem profundo que a contemplação do Ser Criador, que ele, como Jesus, chamava com um grande amor filial de Pai. O mesmo Pai a quem ele sempre recorria quando as coisas não andavam bem, mas também quando tudo corria às mil maravilhas. Na sua atitude de humano, santo e místico, quando não
compreendia certos acontecimentos, não se desesperava, porque se confiava na mão do Pai.
No meu pouco conhecimento de santidade ou de mística, por motivos óbvios, não ser nenhuma coisa e nem outra, creio de entender perfeitamente a angústia profunda em que vivia mergulhado Dom Calábria. Ele não tinha dúvidas da existência e presença de Deus na realidade do mundo. A sua angústia era fruto de sua incompreensão de como um Deus, a Plenitude Infinita tenha se dignado a volver seu olhar para uma criatura tão pequena e tão insignificante como era ele. Essa insignificância, talvez não fosse uma concepção do Calábria, mas o reflexo da realidade social onde viveu e onde vivemos nós, que estabelece a ordem de grandeza por aquilo que a pessoa possui ou pela capacidade de projetar-se. E aqui a angústia de Calábria se revela na sua surpresa: “como um Deus com uma inteligência e sabedoria infinitas poderia ter olhado com tanta ternura, para uma criatura gerada na lama do sofrimento, da pobreza e da ignorância”?
Esse é o sofrimento de todo ser humano que se aproxima de Deus. Soren Kierkegaard dizia, “ninguém pode contemplar o rosto de Deus e permanecer vivo”. Moisés, quando recebeu as tábuas da lei, escondeu o rosto para não morrer e mesmo assim saiu chamuscado pela grandeza da presença de Deus. Ao descer do Sinai, causou espanto aos seus concidadãos, estava com um rosto iluminado. Só se entende a santidade de Dom Calábria, pelo prisma da sua humanidade. O seu jeito místico de viver essa relação com Deus, assustava os incrédulos e deleitava os que verdadeiramente acreditavam em Deus, e por isso, ambos o procuravam: os primeiros para apaziguarem interiormente o seu desejo infinito de Deus, e os segundos, para sentirem-se ainda mais seguros. A mesma experiência feita por Nicodemos e Marta.
 O coração indomável no atrai as pessoas a si, mas a um projeto, que muito maior e que leva a horizontes largos e opções infinitas. O indomável não se deixa tomar pelos interesses pessoais nem de terceiros, sobrepujam a mesquinhez da ganância e da prepotência. Sofre pela incapacidade de compreender dos ignorantes, mas não titubeia e é irascível com mordaz inocência dos hipócritas.
Dom Calábria, 140 ANOS de um Coração Indomável! Obrigado por me ajudar a abrir esta secção. Parabéns pela sua existência! Auguri por não se ter deixado engaiolar pelos pensamentos mesquinhos e não se aprisionar nas mãos das almas pequenas. 

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